Hoje fui com o Padre Luciano à casa “HOGAR”, onde se encontram meninas abandonadas sem pais. Amanhã será um dia grande para várias delas porque receberão o Baptismo. A festa é para todas. Seis jovens que vieram da Itália serão os padrinhos e madrinhas juntamente a nós dois e à Irmã Goretta. Teremos várias afilhadas cada um de nós, mas pouco importa...! Chegamos no momento dos ensaios, mas o entusiasmo era tanto que nos vimos com três ou quatro cada um enroladas ao pescoço.
Alegria que se faz LÁGRIMA! Quem se contem...!!? Para já deixo esta minha reflexão. Se puderes lê também depois de ver as fotos que deixarei sem muitos comentários.
Alegria que se faz LÁGRIMA! Quem se contem...!!? Para já deixo esta minha reflexão. Se puderes lê também depois de ver as fotos que deixarei sem muitos comentários.
Da-me um pouco do teu tempo
ALEGRIA QUE SE FAZ LÁGRIMA
A enfermidade, a dor, a pobreza, o abandono, podem ser facilmente o ponto de partida para uma solidão sem fim...! Aquele que sofre sente a tentação de se fechar em si mesmo, de guardar a dor dentro da sua alma, de não desvendar um segredo que só a ele diz respeito, que não pode ser compreendido plenamente pelos outros.
Vejo essa mesma tristeza como que reflectida nos olhos das muitas pessoas que encontro. Esses olhos que são o espelho da alma dos rostos de quem os mostra. Rostos tristes de uma ausência. Rostos tristes de uma carência. Por vezes de tudo, mas sobretudo de quem os ame.
Com frequência, e nas situações mais diversas, a doença, a pobreza, essa dor leva-os a pedir ajuda. Sofrer em solidão não é nada fácil. Muitas vezes só e em silêncio é muito doloroso. Abandonados por tudo e por todos. Os olhitos cheios de ternura de hoje destas meninas mesmo a poucas horas do seu Baptismo. Amanhã a grande festa. Sofrer com alguém permite-nos sentir que mesmo na dor somos preciosos, que a nossa incapacidade, a nossa pequenês, a nossa nulidade, não constituem um obstáculo para que os outros cuidem de nós, nos amem, nos apoiem.
As mãos de muitos homens e mulheres mas também de jovens que sofrem, frequentemente apertam-nos com firmeza. Pedem-nos uma parte da nossa vida. Quem está necessitado precisa antes de mais de amor, carinho, proximidade, às vezes mais que um medicamento, que uma nova dose de calmante. O médico que sabe acariciar a fronte dos seus pacientes, que os conhece, que lhes dá não só a sua ciência e a sua técnica, mas também o seu coração, faz um bem incalculável.
Ficaram bem firmes no meu pescoço os bracitos das várias crianças de quem irei ser padrinho.
Presenciar com compaixão, palavra que sempre tive dificuldade em usar, mas que reconheço me ter acompanhado permanentemente numa peregrinação que encontrou aqui no Peru o seu verdadeiro Santuário. Aqui não há bens em jogo, apenas a minha presença real em situações também reais. Só o facto de escutar e partilhar no silêncio uma dor que nunca se manifestou, ou uma dificuldade que nunca se partilhou a um ouvido que nada mais dá que o seu tempo. Essa escuta esvazia a solidão, enche a alma e alegra dois corações. Se as lágrimas acontecem, aqui e agora são de jubilo, de sentimentos que se tocam no seu intimo.
O enfermeiro ou a enfermeira que acaricia um idoso, que o ajuda a refrescar a boca, que lhe conta uma história ou lhe pergunta pelos netos, oferece um bálsamo profundo, que lhe chega ao coração. O familiar, o amigo que passa horas junto do trabalhador ou estudante victima de acidente inesperado, faz um gesto de amor e carinho que só os que por lá passaram sabem apreciar em toda a sua grandeza. Normalmente não damos muito valor onde as nossas mãos nada podem, e a nossa sabedoria não alcança. Mas no fundo reconhecemos que a presença dos que amamos para nós é tudo.
É certo que vivemos num mundo de pressas. É certo que temos mil e uma coisas para fazer. É certo que quanto mais cedo nos levantamos mais encontramos que fazer no meio de tantas tensões e problemas. Mas também é certo que somos mais homens quando podemos dar-nos ao que sofre, para que a sua dor não seja vazia, para que a sua pena não o afunde na solidão, para que a sua angustia não o leve ao desespero.
Quando algum doente ou necessitado nos apertar a mão e não nos deixar ir, não nos largar a mão e agarrar com força, não tenhamos medo. Ele não morde. Pede-nos um pouco de tempo, mas sobretudo pede-nos um pouco de amor. Oferece-nos também , talvez sem o saber, a oportunidade de sermos um pouco melhores, de sentir a beleza que é ser homem quando o amor se transforma no mais importante. Talvez mesmo o doente pobre ou abandonado saiba amar-nos mais do que nós o consigamos amar. Então, de uma maneira misteriosa, o nosso dar-se converte-se em receber. Os dois somos assim um reflexo de Deus, que soube amar sem procurar recompensas, que deu o seu sangue numa cruz porque nos amava, que iluminou cada cama, cada lar, cada coração onde havia dor com um raio de esperança, com uma lágrima de alegria. LÁGRIMA de um doente, pobre ou esquecido; AQUELA daqueles que o não são; mas que souberam deixar algo de si mesmos para viver, com generosidade, bondade, alegria sem fingimento junto ao que continuará ali, mesmo ao mosso lado.
Assim sinto o meu coração
nas muitas vezes que
tenho dentro
essa mesma dor partilhada
que se transforma numa
gratidão interior
de uma alegria
que se faz
L Á G R I M A.




Sem comentários:
Enviar um comentário
Ecos das minhas pegadas.
Para estar mais perto.