Ontem á noite o Padre Carlos prontificou-se para celebrar a Santa Missa que tinha esta manhã num dos conventos de clausura de que somos capelães. Fiquei contente porque uma gripe agarrou-me, e a febre ainda não me deixa. Assim esta manhã tinha quase jurado que não sairia do quarto para ver se isto passava. Eram cerca de 10,30h quando o Ir. Abílio me chama para me dizer que estava uma senhora à porta. “Está com uma criança e diz que se chama Rebeka”, disse! O meu coração despertou-me um sentimento de ternura e gratidão. Fui. Era de facto a minha amiga Rebeka de que falei recentemente. Já estava melhor e vinha com um pato já depenado para o almoço, como gesto de agradecimento por ter podido sair do hospital. Vi-a bastante bem, embora ainda deprimida e algo triste. Tinha estado quase meia hora a bater à porta do outro lado.... quando a pequenina (que já cá tinha vindo de noite com a irmã de 9 anos) lhe continuava a dizer que o portão era aquele verde!
Da Fé ao Amor
Santo Agostinho dizia que quando uma pessoa se afasta da fé afasta-se de caridade, porque não podemos amar aquilo que não sabemos se existe ou não. Por outras palavras, a partir da fé reconhecemos e aceitamos os outros na sua bondade, nos seus valores e riquezas pessoais, e só a partir dessa aceitação podemos amá-los
Em muitos corações vive-se uma crise de amor. Não existe uma capacidade de dar-se, de pensar nos outros, de sair de si mesmo para servir, para dar. Esta crise de amor é resultado de uma crise de fé. Talvez nos faltem os esses olhos para descobrir em cada homem, em cada mulher a presença do amor de Deus, um amor que dignifique toda a existência humana.
É verdade que algumas más experiências no trato com os outros nos fazem desconfiados, cautelosos, "prudentes". Não é nada fácil oferecer o nosso tempo o nosso afecto a alguém que nos pode enganar, ou talvez pudesse chegar a dar-nos uma facada pelas costas. Mas para além destes pontos negros que nos fazem desconfiados diante de estranhos, há sempre a possibilidade de renovar a fé e de abrir janelas ao bem imenso presente nos outros.
Além disso, centenas de homens e mulheres que caminham ao nosso lado olham-nos com fé, com carinho, confiam em nós. Às vezes eles fazem-no muito para além de alguns erros que podessemos ter cometido contra eles. O seu olhar dignifica-nos, faz-nos redescobrir os valores que existem em nós mesmos, aquele amor que Deus nos tem, também quando somos pecadores.
Temos de pedir, cada dia, o dom da fé. Uma fé que nos permita crescer no amor. Uma fé que seja entrega, luta, alegria, apesar das falhas e fracassos.
Fé em quem procura acabar com o ciclo da corrupção com um pouco de honestidade. Temos que renovar essa fé que nos leva a crescer no amor.
É verdade que no céu já não faz falta ter fé. Mas agora, enquanto estamos a caminho, a fé nos faz olhar mais além, mais longe, mais no interior. Isso permite-nos vislumbrar que o amor é mais forte que o pecado e as misérias dos homens. Isso permite-nos entrar num mundo de bondade que tornam a vida mais bonita e que nos prepara para receber o dom do paraíso, o dom do amor eterno de Deus nosso Pai.
Tudo isto porque preferimos caminhar já hoje com os herdeiros do mundo que há-de vir, Os donos do Céu.
A minha gratidão para ti,
Rebeka.
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